Acima de tudo, a saúde mental do profissional da saúde é ainda um tabu. Afinal, cuidar de outras pessoas é uma das profissões mais nobres que existem. Médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas e tantos outros profissionais da saúde dedicam-se diariamente a aliviar dores, salvar vidas e promover qualidade de vida. Entretanto, há um aspecto essencial que muitas vezes é deixado de lado: a saúde mental de quem cuida.
Nesse sentido, o paradoxo fica evidente: enquanto cuidam da saúde de seus pacientes, muitos profissionais negligenciam a própria. E esse descuido tem consequências sérias, tanto para o indivíduo quanto para a qualidade do atendimento prestado.
Este texto é um convite à reflexão, especialmente para quem está começando a carreira na área da saúde, sobre como proteger a própria saúde mental em meio às demandas, pressões e desafios da profissão.
A negligência com a própria saúde mental
Não é raro que profissionais da saúde, movidos por um forte senso de responsabilidade e altruísmo, acabam colocando suas próprias necessidades em segundo plano.
Alguns fatores que contribuem para essa negligência incluem, por exemplo:
- Jornadas longas e exaustivas: plantões noturnos, acúmulo de turnos e múltiplos vínculos de trabalho desgastam corpo e mente.
- Cultura da invulnerabilidade: a ideia de que “quem cuida não pode adoecer” leva muitos a esconderem o sofrimento ou a não procurarem ajuda.
- Pressão por resultados: lidar com vidas humanas coloca os profissionais sob constante cobrança, o que aumenta a sensação de falha quando algo não sai como esperado.
- Baixo reconhecimento e remuneração: em muitas áreas da saúde, há descompasso entre o esforço investido e o retorno recebido, gerando frustração e desmotivação.
- Contato constante com dor e morte: a exposição a situações emocionais intensas pode levar ao desgaste emocional e até à síndrome de burnout.
Dessa forma, quando combinados, esses fatores favorecem quadros de ansiedade, depressão, estresse crônico e até abuso de substâncias.
Autocuidados que o profissional da saúde deve ter

Em primeiro lugar, se você está no início da carreira, este é o momento ideal para estabelecer hábitos que vão proteger sua saúde mental ao longo da trajetória. Assim, algumas estratégias são fundamentais:
1. Estabeleça limites claros
Aprender a dizer “não” é uma habilidade tão importante quanto, por exemplo, aprender técnicas clínicas. Para ilustrar: aceitar todo tipo de plantão ou atendimento pode parecer vantajoso no curto prazo, mas compromete a qualidade do trabalho e a saúde a longo prazo.
2. Crie uma rotina de autocuidado
O sono adequado, a alimentação equilibrada e a prática regular de exercícios são pilares básicos para manter corpo e mente saudáveis. Em outras palavras, pequenos ajustes diários já fazem a diferença na sua rotina.
3. Cultive hobbies e vida social
Não deixe que sua identidade se resuma ao trabalho. Ler, cozinhar, praticar esportes ou conviver com amigos ajuda a recarregar as energias e a manter o equilíbrio emocional.
4. Desenvolva inteligência emocional
Aprender a lidar com as próprias emoções e a reconhecer sinais de estresse ou esgotamento é essencial. Isso pode ser treinado por meio de psicoterapia, meditação ou práticas de atenção plena.
5. Invista em apoio entre colegas
Por fim, construir redes de apoio com outros profissionais é uma forma de compartilhar experiências, trocar aprendizados e reduzir a sensação de solidão que muitas vezes acompanha a rotina da saúde.
O impacto das redes sociais na saúde mental do profissional da saúde
As redes sociais são, ao mesmo tempo, uma ferramenta poderosa e uma fonte de desgaste. Para os profissionais da saúde, elas trazem desafios específicos:
- Comparação constante: ver colegas expondo conquistas, rotinas produtivas e sucesso profissional pode gerar frustração e sensação de inadequação.
- Exposição excessiva: compartilhar conteúdos relacionados à prática clínica pode levar a críticas, julgamentos ou até processos éticos, aumentando a ansiedade.
- Desinformação e cobrança: a circulação de informações não confiáveis obriga o profissional a estar sempre atento, além de gerar cobrança dos pacientes por respostas rápidas.
- Falta de desconexão: estar sempre online impede momentos de descanso mental.

Como lidar melhor com o impacto das redes sociais na saúde mental
Para lidar melhor com esse impacto, algumas estratégias são recomendadas. Por exemplo:
- Definir limites de tempo para uso das redes sociais.
- Evitar seguir perfis que gerem comparações nocivas.
- Utilizar as redes de forma consciente e profissional, sempre dentro dos limites éticos.
- Lembrar que a vida real é mais complexa do que aquilo que aparece em fotos e postagens.
Concluindo, quando bem utilizada, a rede social pode até ser um meio de prospectar novos pacientes. Contudo, o profissional da saúde deve se preservar para evitar o desgaste mental.
Como não misturar a sua saúde mental com a do paciente

O contato direto e constante com o sofrimento humano exige do profissional da saúde uma postura empática, mas também equilibrada. Nesse caminho, é um desafio não se deixar afetar excessivamente pelas histórias, dores e frustrações dos pacientes.
Algumas orientações práticas:
- Mantenha limites profissionais claros: ser empático não significa assumir os problemas do paciente como seus.
- Pratique a escuta ativa com distanciamento saudável: ouvir atentamente, mas sem internalizar todo o sofrimento.
- Crie rituais de transição: ao sair do trabalho, adote um hábito que simbolize o “fechamento do dia”, como tomar banho, ouvir música ou praticar uma caminhada. Isso ajuda a separar o espaço profissional do pessoal.
- Supervisão e troca com colegas: em especial para profissionais em início de carreira, discutir casos (sempre de forma ética e preservando a confidencialidade) ajuda a elaborar experiências difíceis.
- Autoconsciência: é importante perceber quando uma situação mexe demais com você e buscar elaborar esses sentimentos em terapia ou grupos de apoio.
Quando e como o profissional da saúde pode buscar ajuda para a sua saúde mental
Reconhecer a necessidade de ajuda não é sinal de fraqueza, mas de maturidade profissional. O autocuidado também inclui saber a hora de recorrer a apoio especializado.
Alguns sinais de alerta são, por exemplo:
- Insônia frequente ou sono não reparador.
- Irritabilidade constante ou explosões emocionais.
- Perda de interesse em atividades antes prazerosas.
- Uso de álcool ou medicamentos como forma de lidar com o estresse.
- Sensação persistente de incapacidade ou desesperança.

Se você perceber esses sinais, é hora de buscar apoio. Algumas possibilidades:
- Psicoterapia: espaço seguro para elaborar sentimentos, desenvolver estratégias de enfrentamento e fortalecer a resiliência. Aqui, na BurnUp, você encontra colegas seus, profissionais da saúde, prontos para te atender.
- Acompanhamento psiquiátrico: quando há sintomas mais intensos ou persistentes, pode ser necessário suporte medicamentoso.
- Programas institucionais de saúde mental: muitos hospitais e instituições oferecem programas de apoio ao colaborador.
- Redes de apoio entre colegas: conversar com outros profissionais pode aliviar a carga emocional e diminuir a sensação de isolamento.
Concluindo: a saúde mental do profissional da saúde não pode ser um tema secundário. Especialmente para quem está em início de carreira, é essencial construir desde já hábitos de autocuidado e consciência sobre os próprios limites.
Cuidar de si é parte fundamental de cuidar do outro. Isso é: quando o profissional reconhece suas necessidades, busca ajuda quando necessário e estabelece limites saudáveis, ele se torna mais capaz de exercer seu trabalho com qualidade, humanidade e longevidade.
No fim das contas, quem cuida também precisa ser cuidado, e esse cuidado começa de dentro para fora.
Conte com a BurnUp
Com a BurnUp, você não está sozinho! Estamos ao seu lado para encontrar o bem-estar que vem de dentro pra fora. Conte conosco no dia a dia e, se precisar, busque ajuda!
Canais disponíveis pelo Ministério da Saúde ou Governo Federal:
- Centro de Valorização da Vida (CVV) – 188 (ligação gratuita) ou acesse o chat no cvv.org.br.
- CAPS e Unidades Básicas de Saúde mais perto da sua casa (Saúde da Família, Postos e Centros de Saúde);
- Se sentir que é urgente, procure a UPA 24H mais perto da sua casa ou chame o SAMU ligando 192 (ligação gratuita).
