Transtornos neurocognitivos: sinais, impacto e caminhos de cuidado em idades mais jovens

Inegavelmente, nas últimas décadas, profissionais da saúde mental e da neuropsicologia têm observado um crescimento significativo na identificação de transtornos neurocognitivos em crianças e adolescentes.

Embora historicamente associados ao envelhecimento, esses quadros também podem ocorrer em idades mais jovens, influenciando em questões como, por exemplo, o desenvolvimento, a aprendizagem, o comportamento e a autonomia. Dessa forma, compreender esses transtornos é fundamental para garantir a detecção precoce, intervenções adequadas e melhor qualidade de vida para a criança e sua família.

Assim, este texto aborda o que são os transtornos neurocognitivos, seus principais sinais na infância e adolescência, como são diagnosticados e quais caminhos terapêuticos têm maior evidência científica.

O que são os transtornos neurocognitivos?

Os transtornos neurocognitivos (TNCs) são condições que envolvem déficits cognitivos adquiridos, decorrentes de alterações neurológicas que impactam domínios como, por exemplo:

  • memória
  • atenção
  • linguagem
  • funções executivas
  • habilidades visuoespaciais
  • velocidade de processamento

Nesse sentido, diferentemente de transtornos do neurodesenvolvimento, como o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), o Transtorno do Déficit de Atenção e/ou a Hiperatividade  (TDAH) ou transtornos específicos de aprendizagem, os TNCs geralmente surgem após um período de desenvolvimento típico, indicando uma perda ou declínio em habilidades previamente adquiridas.

TNCs em crianças e adolescentes: por que acontecem?

Semelhantemente, embora menos frequentes nesse grupo etário, quando presentes, costumam estar associados a questões como:

Ao mesmo tempo, em muitos casos, os sinais podem ser sutis e confundidos com dificuldades escolares ou comportamentais, o que torna a avaliação especializada essencial.

Como os transtornos neurocognitivos se manifestam nas idades mais jovens?

Antes de tudo, vale ressaltar que a apresentação clínica varia conforme a causa, a idade e as áreas do cérebro afetadas. Contudo, alguns sinais são frequentes. A saber:

1. Mudanças cognitivas perceptíveis

  • Esquecimento incomum para idade;
  • Dificuldade em aprender novas informações;
  • Perda de habilidades previamente consolidadas, ou seja, algo que a criança já dominava e não consegue mais.

2. Alterações comportamentais ou emocionais

  • Maior irritabilidade;
  • Desorganização;
  • Redução da iniciativa;
  • Dificuldade de autocontrole.

3. Impacto no desempenho escolar

  • Queda brusca no rendimento;
  • Dificuldade com tarefas antes realizadas com facilidade;
  • Lentificação cognitiva de tal forma que compromete o raciocínio.

4. Mudanças na linguagem

  • Empobrecimento do vocabulário;
  • Dificuldade para encontrar palavras;
  • Redução da compreensão no geral.

5. Alterações visuoespaciais e motoras

  • Tropeços frequentes;
  • Dificuldade em copiar figuras;
  • Dificuldade com orientação espacial.

Em conclusão, a chave é observar mudanças ao longo do tempo, pois o declínio, e não apenas a dificuldade,  é um marcador importante.

Diagnóstico: o papel central da avaliação neuropsicológica

Com toda a certeza, o diagnóstico dos transtornos cognitivos em crianças depende de uma combinação de elementos. Entre eles estão, por exemplo:

1. Entrevista clínica e anamnese detalhada

Incluem tanto o histórico de desenvolvimento quanto doenças prévias, traumas, uso de medicamentos, bem como contexto escolar e familiar.

2. Avaliação neuropsicológica

Permite identificar o perfil cognitivo e funcional da criança, incluindo, por exemplo:

  • memória (verbal e visual)
  • atenção e velocidade de processamento
  • raciocínio
  • funções executivas
  • linguagem
  • habilidades visuoespaciais

Dessa forma, a análise comparativa entre níveis esperados para a idade e desempenho atual é fundamental para identificar declínios.

3. Exames complementares

Acima de tudo, dependendo do caso, podem ser solicitados:

  • neuroimagem (ressonância magnética, tomografia)
  • eletroencefalograma
  • exames laboratoriais metabólicos e genéticos

4. Observação do contexto escolar

Por fim, relatos de professores ajudam a detectar mudanças no comportamento, socialização e desempenho acadêmico.

Impactos no desenvolvimento e na vida cotidiana

Transtornos neurocognitivos podem afetar diversos aspectos da vida da criança, ou seja, é preciso observar questões como:

  • Desempenho escolar: queda do rendimento, bem como a necessidade de apoio pedagógico especializado;
  • Socialização: dificuldades de interação, perda de habilidades sociais e isolamento;
  • Autonomia: maior dependência para atividades diárias;
  • Autoestima: aumento tanto da insegurança quanto do sofrimento emocional;
  • Família: maior sobrecarga dos cuidadores e necessidade de reorganização de rotinas.

Por fim, o impacto pode ser significativo, mas a boa notícia é que intervenções precoces tendem a melhorar muito o prognóstico.

Caminhos terapêuticos para transtornos cognitivos baseados em evidências

Com toda a certeza, o tratamento é sempre individualizado e depende da causa do transtorno. No entanto, algumas abordagens são amplamente recomendadas:

1. Reabilitação neuropsicológica

Focada em:

  • treinar funções cognitivas afetadas;
  • desenvolver estratégias compensatórias;
  • fortalecer funções preservadas.

Sem dúvidas, é uma das intervenções mais eficazes em quadros de TNC pediátricos.

2. Terapia fonoaudiológica

Indicada quando há alterações de linguagem ou processamento auditivo.

3. Terapia ocupacional

Auxilia na autonomia, coordenação e organização das atividades da vida diária.

4. Cuidados médicos específicos

Tratamento da causa primária. Por exemplo: controle da epilepsia, manejo de doenças metabólicas, suporte pós-TCE.

5. Apoio psicoterapêutico

Sem dúvidas é importante, especialmente para lidar com:

  • frustrações
  • ansiedade
  • autoestima
  • adaptação às mudanças cognitivas

6. Acompanhamento escolar

Por fim, esse item é essencial para:

  • adaptações pedagógicas;
  • avaliações periódicas;
  • comunicação constante entre escola e equipe clínica.

Importância do acompanhamento contínuo

Transtornos neurocognitivos na infância não são estáticos. Afinal, o cérebro em desenvolvimento passa por mudanças contínuas, o que significa que:

  • o desempenho pode melhorar com terapias.
  • algumas habilidades podem se recuperar.
  • novas dificuldades podem surgir ao longo do crescimento.
  • reavaliações periódicas são essenciais para ajustar o plano terapêutico.

Assim, a intervenção multidisciplinar garante suporte integral à criança e possibilita melhor qualidade de vida, participação escolar e desenvolvimento emocional saudável.

Resumindo os transtornos neurocognitivos em jovens

Concluindo: os transtornos neurocognitivos em crianças e adolescentes, apesar de menos comuns do que nos adultos, têm grande impacto quando não identificados precocemente.

Decerto, observar mudanças cognitivas, recorrer à avaliação neuropsicológica e manter acompanhamento multidisciplinar são passos essenciais para garantir intervenções eficazes e preservar o potencial de desenvolvimento. 

Dessa forma, com cuidado adequado, muitas crianças conseguem recuperar habilidades, desenvolver novas estratégias e seguir seu percurso escolar e social com mais autonomia e bem-estar.

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  • Se sentir que é urgente, procure a UPA 24H mais perto da sua casa ou chame o SAMU ligando 192 (ligação gratuita).

Referências

  • American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5-TR). 2022.
  • Anderson, V., Spencer-Smith, M., & Wood, A. (2017). Childhood acquired brain injury: Neurological, cognitive, social and behavioural consequences.
  • Reynolds, C., & Fletcher-Janzen, E. (2018). Handbook of Clinical Child Neuropsychology.
  • Sarnat, H. B., & Flores-Sarnat, L. (2020). Pediatric neurodegenerative disorders. Pediatric Neurology.
  • Yeates, K. O. et al. (2019). Traumatic brain injury in childhood: A review of mechanisms and outcomes. Journal of Child Psychology and Psychiatry.
Assinatura Luciana Benedetto