Campanhas de conscientização, como o Janeiro Branco, desempenham um papel fundamental em promover o bem-estar, além de alertar a população sobre questões de saúde mental e emocional.
A cada mês, uma nova causa ganha destaque, acompanhada de uma cor simbólica que representa a luta ou promoção de determinado tema. Essas campanhas têm como objetivo sensibilizar, informar e motivar as pessoas a cuidarem da saúde e prevenir doenças, além de promover debates sobre questões muitas vezes cercadas de tabus.
O que é o Janeiro Branco?
O Janeiro Branco é uma campanha dedicada à conscientização sobre saúde mental. Criada pelo Instituto Janeiro Branco, sua proposta é incentivar reflexões sobre a vida, os relacionamentos e os objetivos para o novo ano. A cor branca simboliza um espaço vazio, onde é possível projetar mudanças positivas, incluindo cuidados com a alimentação, relacionamentos e padrões de comportamento que afetam a mente.
Entre os temas que emergem nesse período, um deles é a relação entre alimentação e a busca por um corpo considerado ideal, mais especificamente o desejo incessante por um corpo magro.
O impacto da pressão social para emagrecer no começo do ano
A pressão estética está relacionada à expectativa social e cultural de que as pessoas precisam atender determinados padrões de beleza considerados ideais como, por exemplo, um corpo magro, jovem, além de outros atributos físicos presentes de forma constante na mídia e redes sociais. Em janeiro, isso se vê mais acentuado com a busca irreal do “corpo de verão”.
Essa pressão influencia significativamente a maneira como as pessoas se veem e como se sentem em relação a seus corpos, especialmente as meninas e mulheres, criando um desejo constante de atender esses padrões irreais e inatingíveis, resultando em um ciclo de autocrítica constante e insatisfação corporal, afetando assim o bem-estar físico e emocional.
A busca por um corpo magro, especialmente relacionado com metas de começo de ano ou adequação ao verão, pode trazer sérios impactos à saúde, especialmente quando essa pressão se transforma em obsessão. É um reforço negativo de padrões irreais que associam a magreza ao sucesso, felicidade e aceitação. Isso provoca sentimentos de inadequação e insegurança em relação ao corpo, resultando em baixa autoestima, ansiedade e estresse. Por consequência, muitos recorrem a comportamentos prejudiciais à saúde, como dietas restritivas, jejuns prolongados, excessos na prática de exercícios físicos e uso de substâncias para emagrecimento.
Esses hábitos podem desencadear um comer transtornado e, em casos mais graves, a transtornos alimentares, como anorexia e bulimia nervosa.
Janeiro Branco: mitos sobre emagrecimento que podem prejudicar sua saúde física e mental
A ideia simplista de que emagrecer é apenas uma questão de “fechar a boca” tem sido perpetuada por diversos meios de comunicação. Além de errada, ela cria a falsa impressão de que emagrecer é algo fácil e rápido. Isso leva muitas pessoas a questionarem sua força de vontade quando não conseguem alcançar os resultados desejados. O que pode gerar impactos a curto e longo prazo na saúde mental.
São vários equívocos constantemente divulgados, entre os mais comuns estão:
- Fazer jejuns prolongados ou dietas extremamente restritivas emagrecem mais rápido: embora a perda de peso rápida seja atraente, a restrição alimentar severa pode levar a comportamentos compulsivos e exageros alimentares, resultando em ganho de peso.
- Carboidrato engorda: mesmo esse mito tendo sido refutado diversas vezes, muitas pessoas ainda acreditam que comer carboidratos engorda. Na verdade, os carboidratos são essenciais para o nosso organismo, pois fornecem energia e desempenham papel importante no funcionamento do cérebro e no humor.
- Comer à noite engorda: a ideia de que comer à noite leva ao ganho de peso ignora a realidade de que, mesmo enquanto dormimos, nosso corpo continua a funcionar e gastar energia. O ganho de peso está relacionado aos hábitos alimentares e ao equilíbrio calórico ao longo do tempo, não a uma refeição tardia.
- Dietas da moda são confiáveis para perder e manter o peso: as dietas da moda, independente do nome, são aquelas que, normalmente, apresentam grandes restrições calóricas. Elas diminuem não só a quantidade, mas também, os tipos de alimentos, chegando a excluir grupos inteiros, o que pode causar deficiências nutricionais. Essa restrição costuma não ser sustentável a longo prazo, fazendo com que haja a recuperação do peso perdido, levando ao famoso efeito sanfona e sentimentos como frustração e culpa.
Como ter pressa na dieta pode afetar seu corpo?
A perda de peso acelerada pode trazer muitos prejuízos à saúde física, pois está relacionada à restrição alimentar severa e/ou a realização excessiva de exercícios. Assim, o corpo acaba perdendo massa muscular, além de gordura e, geralmente, apesar de diminuir o número da balança, as pessoas acabam “engordando”. Isso se dá pois a perda de massa magra pode aumentar o percentual de gordura corporal.
Outro problema é a desregulação do metabolismo. Com a restrição alimentar severa, o corpo acaba diminuindo o gasto energético, aumentando o apetite e, consequentemente, a ingestão calórica. Esse efeito se chama adaptação metabólica e é uma tentativa do corpo de preservar energia em tempos de escassez de alimentos.
Por fim, não podemos deixar de falar do famoso efeito sanfona. Essa condição de engorda/emagrece – engorda/emagrece que é mais prejudicial ao organismo do que estar acima do peso de forma constante. O efeito sanfona tem algumas causas, uma delas é que as dietas restritivas não são sustentáveis a longo prazo e, normalmente, quem faz acredita que as mudanças têm um prazo, seja ele chegar no peso desejado ou “cansar” de fazer a dieta. Quando a pessoa retorna aos seus hábitos antigos, o corpo tende a recuperar o peso perdido, muitas vezes com acréscimos, devido ao aumento do apetite e à adaptação metabólica.
Como dissemos, além dos danos físicos, essa busca constante por um corpo magro afeta gravemente a saúde mental. O aumento do número de procedimentos estéticos, especialmente no Brasil, é um reflexo da pressão estética, assim como o crescente número de pessoas diagnosticadas com transtornos alimentares, especialmente entre jovens e adolescentes.
O que é sucesso no emagrecimento?
O sucesso no emagrecimento não é medido pelo número da balança, mas sim pela capacidade de adotar um estilo de vida saudável e sustentável.
De acordo com especialistas, se uma pessoa, que está acima do peso, consegue perder e manter 10% de seu peso inicial durante um ano, isso já é considerado um sucesso. Melhor ainda se essa mudança for mantida por cinco anos.
É possível afirmar também que a perda de peso costuma ser consequência das mudanças do estilo de vida e padrões alimentares através da adoção de uma alimentação saudável e de uma rotina mais ativa.
Um cuidado necessário é entender também que um corpo magro não é suficiente para rotular a pessoa como saudável. A saúde está ligada ao nosso dia a dia e não ao tamanho do corpo.
Como evitar transtornos alimentares durante o processo de emagrecimento
Os transtornos alimentares (TA) são doenças psiquiátricas graves que apresentam múltiplas causas. Entre elas, estão questões relacionadas aos aspectos biológicos, como genética, fatores ambientais e a imposição de padrões de beleza e social.
Segundo a APA, 2014¹, os transtornos alimentares são caracterizados “por uma perturbação persistente na alimentação ou no comportamento relacionado à alimentação que resulta no consumo ou na absorção alterada de alimentos e que compromete significativamente a saúde física ou o funcionamento psicossocial do indivíduo”.
Essas condições afetam tanto a saúde física quanto a emocional e, muitas vezes, estão associadas a preocupações excessivas com o corpo, a imagem corporal distorcida e a busca por um peso ideal de forma obsessiva.
Os TA apresentam consequências graves, podendo levar a sérios problemas de saúde, como desnutrição, distúrbios metabólicos e transtornos psicológicos, como ansiedade e depressão e, em casos extremamente graves, à morte.
Os transtornos alimentares mais comuns, como a Anorexia Nervosa, Bulimia Nervosa, Transtorno de Compulsão Alimentar, Transtornos Alimentares Não Especificados e Outros Transtornos Alimentares Especificados, estão relacionados diretamente à busca pelo corpo magro. E, infelizmente, não existe uma maneira segura de preveni-los. Entretanto, já é sabido que os padrões estéticos, a gordofobia e a pressão social são importantes gatilhos para o seu desenvolvimento. Por isso, a afirmação “nem todas as dietas irão causar um transtorno alimentar, mas todo transtorno alimentar iniciou com uma dieta” é repetida continuamente por profissionais da área.
Dessa maneira, ao pensar em emagrecimento, é de extrema importância buscar um profissional sério, capacitado e que olhe além da parte biológica da dieta e do emagrecimento. Esse profissional deverá estar atento aos comportamentos, preocupações excessivas com peso e corpo, histórico familiar e do paciente, além de ajudá-lo a desconstruir a ideia de um único padrão de beleza, da importância da diversidade corporal e buscar a saúde propriamente dita, nas esferas física e mental.
Janeiro Branco: equilíbrio é a chave para saúde
Neste mês de reflexão, o Janeiro Branco nos lembra que a busca por saúde e bem-estar vai além de números na balança. Em vez de adotar dietas restritivas e arriscadas, priorize hábitos saudáveis, como:
- consultar profissionais qualificados para orientar a alimentação.
- focar em mudanças sustentáveis no estilo de vida.
- valorizar a diversidade corporal e evitar comparações irreais.
Cuide da sua saúde mental ao buscar equilíbrio. O sucesso no emagrecimento está em melhorar sua qualidade de vida, não em atingir padrões estéticos impostos pela sociedade.
Neste Janeiro Branco, reflita sobre como suas escolhas alimentares e hábitos de vida influenciam sua saúde mental. Adote um caminho mais consciente e sustentável para alcançar seus objetivos, respeitando os limites do seu corpo e valorizando sua individualidade.
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Canais disponíveis pelo Ministério da Saúde ou Governo Federal:
- Centro de Valorização da Vida (CVV) – 188 (ligação gratuita) ou acesse o chat no cvv.org.br.
- CAPS e Unidades Básicas de Saúde mais perto da sua casa (Saúde da Família, Postos e Centros de Saúde).
- Se sentir que é urgente, procure a UPA 24H mais perto da sua casa ou chame o SAMU ligando 192 (ligação gratuita).
¹American Psychiatric Association (APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM–5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.