O divórcio traz consigo muito mais que a dissolução de um contrato matrimonial: ele impacta profundamente a saúde mental, as relações, as finanças e o sentido de vida de quem o vivencia. Por isso, entender esse processo de forma clara e cuidadosa permite atravessá-lo com mais consciência, menos culpa e mais apoio.
No Brasil, os dados evidenciam o crescimento dos divórcios e a necessidade urgente de cuidar do bem-estar emocional durante essa ruptura. De fato, em 2023 foram registrados 440.827 divórcios. Isso significa um aumento de 4,9% em relação a 2022.
Além disso, cerca de 47,8% dos divórcios ocorrem em menos de dez anos de união.
Neste artigo vamos abordar:
- os números do divórcio no Brasil e o reflexo na saúde mental;
- os transtornos que afetam a saúde mental mais comuns após a separação;
- as fases do luto que acompanham o término;
- quando e por que buscar terapia de casal ou individual;
- atitudes de autocuidado essenciais durante a separação.
Ao final, você estará mais preparado para agir com gentileza consigo mesmo, priorizando seu bem-estar emocional durante essa transição.
Números do divórcio no Brasil e o impacto emocional
Como mencionado, o Brasil vive um momento de crescimento no número de dissoluções matrimoniais. Estes dados mostram que o divórcio não é mais um fenômeno marginal, mas sim uma realidade relevante na vida de milhares de pessoas e, portanto, suas consequências emocionais merecem atenção.
Nesse sentido, estudos internacionais apontam que pessoas separadas são mais propensas a desenvolver transtornos como depressão, ansiedade, ideação suicida e uso abusivo de substâncias. Por exemplo, uma meta-análise revelou que o divórcio está associado a um risco 1,29 vezes maior de depressão e 1,12 vezes maior de ansiedade.

Por sua vez, outro estudo, dessa vez com adolescentes, mostrou que filhos de pais divorciados tinham taxas mais elevadas de burnout social, evitamento, depressão e ideação suicida.
Esses dados reforçam que o divórcio vai muito além da separação legal: ele mexe com a identidade, autoconfiança, rede de apoio e estrutura emocional do indivíduo. Consequentemente, é essencial olhar para esse momento com suporte profissional e autocuidado.
Transtornos de saúde mental pós-divórcio
Quando o processo de divórcio envolve conflitos elevados, insegurança financeira, ou ausência de suporte emocional, o risco de adoecer emocionalmente aumenta. Entre os transtornos mais frequentes estão, por exemplo:
- Depressão: tristeza persistente, perda de interesse, culpa ou baixa autoestima.
- Ansiedade: preocupação excessiva, inquietação, ataques de pânico ou tensão constante.
- Burnout emocional: sensação de esgotamento, apatia, falta de energia, desmotivação.
- Transtornos do sono: insônia ou hipersonia que comprometem a recuperação emocional.
- Distúrbios de apego ou autoestima: dificuldades para confiar, sensação de abandono, insegurança relacional.
Além disso, a ruptura conjugal pode desencadear ou agravar comportamentos de risco, tais como consumo excessivo de álcool ou isolamento social. A meta-análise citada anteriormente identificou que o divórcio está ligado a índices mais altos de ideação suicida e uso de substâncias.
Por isso, reconhecer os sintomas, buscar ajuda e não minimizar o sofrimento são atitudes fundamentais para preservar a saúde mental.
As fases do luto no divórcio
Assim como a perda de uma pessoa querida, o divórcio aciona um luto tanto pela relação que se encerra quanto pelos sonhos e vida que mudam. Dessa forma, conhecer as fases ajuda a normalizar a dor e encontrar caminhos para a reconstrução.

Negação e choque
No início, muitas pessoas se sentem atordoadas, incrédulas ou resistem à separação. A negação pode surgir nos comentários “isso não está acontecendo comigo” ou “é apenas uma fase”. Esse momento exige paciência, pois ele protege o indivíduo da dor imediata.
Raiva e protesto
Em seguida, aparece a raiva contra o parceiro, contra si mesmo, contra o sistema. É comum que surjam sentimentos de injustiça, vingança ou culpa. Reconhecer essa fase é importante para evitar ações impulsivas que complicam o encerramento.
Barganha
Nesta fase, a pessoa tenta recuperar o que perdeu ou renegociar a situação: “se eu fizer isso, talvez ele(a) volte” ou “se eu mudar, iremos juntos de novo”. É um estado de esperança e medo misturados.
Depressão e tristeza
Quando a realidade se torna inescapável, pode surgir um sentimento profundo de perda: da companhia, dos planos e da identidade conjunta. A tristeza pode levar ao isolamento e à melancolia. Se a duração for prolongada, há o risco de depressão.
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Aceitação e reconstrução
Essa fase não significa que se vive sem dor, mas que se conseguimos caminhar em frente com mais leveza. Reconhecer que a vida mudou e encontrar novos significados fazem parte desse momento de reconstrução. O autocuidado como, por exemplo, o cultivo de hobbies, se torna central.
Entender que o divórcio implica um processo de adaptação é essencial. Devido ao luto, a paciência, a auto gentileza, a responsabilidade afetiva e o apoio emocional fazem diferença.
Quando e como buscar terapia de casal ou individual
Apesar de o casamento estar acabando, ainda há momentos em que a terapia de casal pode ajudar — seja para uma tentativa de reconciliação, seja para uma separação mais saudável. Da mesma forma, a terapia individual torna-se crucial quando o impacto emocional se torna intenso ou persistente.
Terapia de casal

Buscar terapia conjugal pode ser indicado se:
- Houver desejo de salvar ou reconstruir a relação;
- O conflito ainda for elevado, mas há vontade de solução;
- Uma das partes acha que a separação pode ser evitada com mediação profissional.
Leia também: Terapia de casais: é só pra quem está se separando?
Terapia individual
É hora de buscar apoio individual se:
- Os sintomas de tristeza, ansiedade ou raiva persistirem por semanas ou meses;
- Houver uso de substâncias para lidar com o sofrimento;
- O sono, o apetite ou o funcionamento diário estiverem comprometidos;
- Houver ideação suicida ou sensação de inutilidade.
Vale lembrar: a terapia não é sinal de fraqueza, mas de coragem. Procurar ajuda cedo pode evitar prolongar o sofrimento e facilita a reconstrução emocional.
Atitudes de autocuidado durante o processo de divórcio
Enquanto o divórcio não é encerrado juridicamente, muitas coisas já precisam de cuidado. Portanto, a sua saúde mental deve ser prioridade. Aqui estão atitudes práticas que você pode adotar para se cuidar:

- Estabeleça uma rotina diária – sono adequado, alimentação saudável e exercício físico ajudam a manter a estabilidade emocional.
- Crie espaços de expressão: escreva em diário, converse com amigos de confiança ou participe de grupos de apoio.
- Permita-se sentir: a dor, o medo e a raiva são reações legítimas. Evite suprimir emoções.
- Evite decisões impulsivas: grandes mudanças como mudar de casa ou viajar podem esperar um pouco até que a mente esteja mais clara.
- Busque novos sentidos: encontre atividades que tragam prazer e significado. Isso ajuda a reconstruir a identidade.
- Minimize gatilhos de ansiedade: se as redes sociais ou comparações aumentarem seu sofrimento, controle o uso ou afaste-se temporariamente.
- Permita-se apoio profissional: psicoterapia ou apoio legal ajudam a gerenciar o processo de forma mais consciente.
Para além do divórcio em si, esses cuidados fortalecem sua resiliência e preparam você para a nova fase da vida que se inicia.
Superando o divórcio com a saúde mental fortalecida
O divórcio é um dos eventos mais estressantes que uma pessoa pode enfrentar e também um momento de profunda transformação pessoal. Assim, ao reconhecer que há impacto na saúde mental, ao respeitar as fases do luto, ao buscar terapia quando necessário e ao praticar autocuidado, você aumenta suas chances de atravessar esse capítulo com dignidade e reconexão consigo.
Na jornada de separação, lembre-se: você não está sozinho. Cuidar de si não é egoísmo e sim parte fundamental do autoconhecimento. Se quiser apoio e direcionamento, a plataforma da BurnUp tem recursos que podem ajudar.
Conte com a BurnUp
Com a BurnUp, você não está sozinho! Estamos ao seu lado para encontrar o bem-estar que vem de dentro pra fora. Conte conosco no dia a dia e, se precisar, busque ajuda!
Canais disponíveis pelo Ministério da Saúde ou Governo Federal:
- Centro de Valorização da Vida (CVV) – 188 (ligação gratuita) ou acesse o chat no cvv.org.br.
- CAPS e Unidades Básicas de Saúde mais perto da sua casa (Saúde da Família, Postos e Centros de Saúde).
- Se sentir que é urgente, procure a UPA 24H mais perto da sua casa ou chame o SAMU ligando 192 (ligação gratuita).



