As dietas de fim de ano se tornaram uma prática comum, especialmente para quem deseja perder peso rapidamente antes das festas para “descontar” na ceia de Natal e Réveillon. No entanto, as dietas restritivas, em qualquer época do ano, podem trazer mais malefícios do que benefícios, tanto para o corpo quanto para a mente. Vamos entender por que seguir dietas restritivas é prejudicial.
Desde a infância, iniciamos o desenvolvimento da percepção sobre o nosso corpo. Por volta dos 2 ou 3 anos de idade, começamos a entender como ele se relaciona com o ambiente e com a sociedade, e essa consciência corporal se consolida entre os 10 e 12 anos. No entanto, com a pressão estética, essa relação pode se tornar complicada. A busca por um “corpo ideal”, especialmente no fim de ano, intensifica essa insatisfação corporal.
Agora, quando será que as pessoas começam a criticar ou querer mudar seu corpo?
A pressão estética e as dietas de fim de ano
O corpo é uma das formas de comunicação com o mundo, através dele as pessoas demonstram seus desejos e vontades, além de influenciar a qualidade nas trocas sociais (Bernard, 2016). Por essa razão, a forma como as pessoas percebem seu corpo influencia em como elas se sentem ao se apresentar para as pessoas e sociedade gerando um certo tipo de pressão.
A pressão estética é a pressão da sociedade por um corpo dito “ideal”. Essa pressão faz com que desde cedo, e cada vez mais cedo, as pessoas acabem questionando se o corpo que têm é suficiente ou não. Para atingir esse ideal, as pessoas tendem a adotar comportamentos de risco como as dietas restritivas. E, apesar dessa pressão afetar todas as pessoas, é indiscutível que as mulheres ainda são o público que mais sofrem com ela. Afinal, quem nunca viu em uma revista feminina, uma influenciadora ou uma amiga ensinando como perder aqueles quilos extras em uma dieta de fim de ano para caber no vestido branco do réveillon?
Os padrões irreais de beleza
A ideia de um corpo insuficiente, pode causar a insatisfação corporal e essa insatisfação está diretamente relacionada com a forma como trato meu corpo, englobando os pensamentos, sentimentos e atitudes que temos sobre ele (Timerman, 2021).
A busca pelo corpo perfeito é uma busca sem fim que gera os padrões irreais de beleza. Afinal, de tempos em tempos esse “perfeito” muda. A dieta de fim de ano imperdível deste ano pode ser voltada para ganhar músculos e a do ano que vem para ser o tipo mignon sem levar em conta coisas como idade e biotipo natural.
Quando olhamos para a história, conseguimos ver essa mudança e, consequentemente, diferentes padrões de beleza, fazendo com que a busca do perfeito seja sempre uma batalha perdida já que é um padrão inalcançável.
A situação fica ainda mais difícil nos dias de hoje onde, com as redes sociais, as pessoas são bombardeadas de imagens de corpos ditos “perfeitos”, mas que são resultado de muitos filtros, photoshops e até produtos de inteligência artificial. A propagação dessas imagens e o boom de influenciadores que, de forma enganosa, dizem que para ter esse corpo basta ter “foco, força e fé”, traz a ideia de que nosso corpo é moldável e que basta “querer” que é possível ter esse tão desejável corpo.
Acreditando nessa ideia, as pessoas acabam abrindo mão de muitas coisas para atingir esse corpo, como abrir mão de momentos agradáveis como as ceias das festas de fim de ano, da saúde e até da vida.
Esse tipo de comportamento contribui para que o Brasil seja um dos países com o maior número de procedimentos e cirurgias estéticas do mundo e esse número cresce ano a ano. Além dos procedimentos estéticos, cirúrgicos ou não, outra estratégia bastante comum para atingir esse ideal de beleza são as famosas dietas restritivas.
Até aqui vimos como o corpo perfeito é uma construção social. Agora, chegou a hora de falarmos como as dietas de fim de ano fazem mal para o corpo.
O efeito das dietas restritivas no corpo
Existem muitas evidências de que fazer dieta pode ser um fator preditor de ganho de peso. Alguns estudos apontam que em torno de 95% das pessoas que fazem dieta e conseguem perder peso voltam a ganhar o peso perdido e, às vezes, ganham mais peso do que perderam. É a repetição desse ciclo que conhecemos como o efeito sanfona.
O corpo humano passou por adaptações evolutivas que favorecem o armazenamento de gordura, um mecanismo de sobrevivência em tempos de escassez. Hoje em dia já sabemos que armazenamos diferentes tipos de gordura, sendo que a gordura possui importantes funções no organismo, como por exemplo a produção de hormônios, transporte de nutrientes. Quando iniciamos uma dieta restritiva, nosso corpo interpreta isso como uma agressão e adota estratégias para preservar energia, como reduzir o gasto calórico e aumentar a fome. Isso pode levar ao fracasso da dieta e ao aumento de peso.
As dietas restritivas de fim de ano, além de diminuírem drasticamente a ingestão de alimentos essenciais, muitas vezes resultam em exagero e até episódios de compulsão alimentar. A restrição alimentar severa gera uma verdadeira obsessão pela comida e, quando finalmente nos permitimos comer, a tendência é exagerar, iniciando o ciclo da dieta — um ciclo vicioso de restrição, compulsão e culpa.
Adaptado de Sophie Deram , 2023
A nutricionista Desire Coelho, autora do livro “Por que não consigo emagrecer” diz que nosso corpo é um pouco histérico, porque a qualquer sinal de restrição, começa a lutar contra essa perda de peso. Isso acontece porque, geneticamente, nosso corpo ainda não teve tempo para se adaptar a essa nova realidade, onde temos acesso a comida diversas vezes por dia e a qualquer momento.
As dietas restritivas acabam suprimindo alimentos em quantidade e qualidade (restrição de alguns alimentos específicos e até grupos inteiros de nutrientes) e, normalmente, as pessoas conseguem manter essa restrição por um curto período de tempo.
Ao parar de fazer dieta, a tendência é que as pessoas voltem aos antigos hábitos e a comer alimentos que foram proibidos durante esse período, podendo até, por conta do período de restrição, compensar a alimentação, o famoso “agora posso”.
O efeito das dietas restritivas na mente
As dietas restritivas, sejam voltadas para o fim de ano ou não, afetam a saúde mental. A pressão para se adaptar a padrões irreais de beleza pode desencadear ansiedade, depressão e transtornos alimentares. O ato de restringir alimentos prazerosos em períodos como o fim de ano, que envolve tantas celebrações e momentos sociais, pode levar ao isolamento e à sensação de privação, gerando desconforto emocional e físico.
Por todas essas razões, entender como lidamos com a restrição alimentar e identificar os gatilhos dos nossos comportamentos alimentares é fundamental, pois nossa mente, em momentos de escassez, funciona de modo intenso para suprir as necessidades não atendidas, se aproveitando de todos os momentos e oportunidades, ainda mais quando falamos de uma necessidade tão básica como comer. Mais que querer caber naquela roupa branca dois números menores no ano novo é importante entender a sua motivação pessoal e a construção da sociedade em padrões corporais.
Alternativas saudáveis para a dieta de fim de ano
Como vimos, as dietas de fim de ano podem ser prejudiciais para o nosso corpo e mente.
É muito importante lembrar que uma alimentação realmente saudável é equilibrada, com oferta de diferentes nutrientes e, também, diferentes alimentos, sejam eles mais ou menos palatáveis, mesmo quando falamos de emagrecimento.
Mais importante do que restringir a alimentação por um período é aprender a comer, avaliar quais pontos da alimentação você gostaria de mudar e identificar quais comportamentos alimentares demandam maior atenção.
Todos os alimentos têm seu espaço na nossa vida e momentos sociais, festas, momentos em família, pedem comidas mais gostosas. Já em outros momentos precisamos comer comidas mais nutritivas. Essa flexibilização, além de aumentar a possibilidade da manutenção de um peso saudável, faz com que consigamos manter nossa mente saudável, percebendo que todos os alimentos têm seu espaço e momentos de consumo.
A alimentação equilibrada é a real alimentação saudável que tanto buscamos.
Referências:
BERNARD, M. O corpo. Ed. Apicuri, 2016, RJ
TIMERMAN, F. Transtornos Alimentares, Ed. Senac, 2021, SP
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