O burnout é hoje uma das principais queixas entre profissionais no Brasil e no mundo. Mas você sabia que a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) já descrevia sintomas semelhantes há milênios? Neste artigo, vamos explorar como a MTC entende e trata o burnout — e por que esse olhar milenar pode ser um poderoso aliado para recuperar o equilíbrio físico, mental e emocional.
O que é a Medicina Tradicional Chinesa?

A Medicina Tradicional Chinesa é um sistema terapêutico milenar que compreende o ser humano como parte da natureza e considera a saúde um estado de equilíbrio dinâmico. Ao invés de focar apenas nos sintomas, a MTC observa padrões energéticos que se repetem no corpo e no ambiente, com base em conceitos como Qi (energia vital), Yin e Yang, e os cinco sistemas funcionais: Coração, Fígado, Baço, Pulmões e Rins.
O que é o burnout?
Burnout é uma condição de esgotamento físico, mental e emocional causada por estresse crônico, especialmente em contextos profissionais. Reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um fenômeno ocupacional, a síndrome de burnout se manifesta por meio de sintomas como fadiga extrema, falta de motivação, irritabilidade, insônia, sensação de incompetência e distanciamento emocional do trabalho.
Na perspectiva da Medicina Tradicional Chinesa, o burnout pode ser compreendido como um desequilíbrio energético profundo, resultado da sobrecarga prolongada e do uso excessivo dos “recursos vitais” do corpo.
A visão energética da vida
Na cosmovisão da MTC, a essência da vida reside na dinâmica energética. O conceito de Qi (energia vital) é central, funcionando como uma força motriz comparável à eletricidade que alimenta uma máquina. Quando o fluxo do Qi ocorre de maneira livre e equilibrada, a saúde se mantém; mas se for bloqueado ou estiver em desequilíbrio, surgem doenças. Essa visão está alinhada ao princípio físico da conservação de energia: ela não se cria nem se destrói, apenas se transforma e se redistribui.
A sabedoria do equilíbrio dinâmico

A teoria do Yin e Yang é a pedra angular da MTC, descrevendo a interação dialética entre forças complementares. Assim como o ciclo dia-noite e a sucessão das estações, o organismo humano busca manter equilíbrios dinâmicos: calor e frio, excesso e deficiência, superfície e profundidade. Quando esse equilíbrio se rompe, ocorre um processo gradual de afastamento do centro de gravidade saudável, favorecendo o adoecimento.
Sistemas funcionais integrados
Na MTC, os chamados “cinco órgãos” — coração, fígado, baço, pulmões e rins — não correspondem diretamente a estruturas anatômicas, mas a sistemas funcionais interconectados. Por exemplo, o chamado “sistema baço-pâncreas” abrange funções digestivas, metabólicas e imunológicas, antecipando em séculos o conceito ocidental de síndrome metabólica. Essa visão holística compara o corpo humano a um smartphone: cada parte funciona como um chip integrado, processando, armazenando e transmitindo informações de forma sistêmica.
Burnout: quando a “bateria vital” está sempre fraca

Na sociedade contemporânea, o burnout ou esgotamento profissional encontra na MTC correspondentes como “fraqueza crônica” (Xu Lao) ou “esgotamento mental” (Shen Pi). A abordagem da MTC transcende a mera percepção subjetiva de cansaço, oferecendo uma análise profunda do ecossistema energético humano.
Na Medicina Tradicional Chinesa, os sintomas da fadiga crônica são descritos em várias categorias, como “deficiência do corpo”, “depressão”, “problemas emocionais” e “depressão maníaca”. Exemplos importantes incluem:
- No “Huangdi Neijing”, clássico fundamental da MTC, afirma-se: “o movimento excessivo esgota o Qi”, “manter o foco prolongado prejudica o sangue”, “ficar deitado por muito tempo prejudica o Qi” e “o sedentarismo prejudica os músculos”, enfatizando que tanto o excesso quanto a falta de movimento podem causar doenças.
- O “Jinkui Yaolue” possui um capítulo sobre “deficiências do corpo”, que descreve sintomas de deficiência de Qi, sangue, Yin e Yang — condições compatíveis com sinais de burnout, como fraqueza, insônia e esquecimento.
- A teoria das “seis depressões”, apresentada no “Danxi Xinfa”, descreve como distúrbios emocionais podem levar à estagnação do Qi e gerar sintomas sistêmicos.
Etiologia e patogênese segundo a MTC
Para a MTC, a síndrome da fadiga crônica, conhecida no ocidente como Burnout, resulta da ação conjunta de fatores internos e externos, sendo seu mecanismo central a “deficiência original com estagnação”: ou seja, coexistem uma deficiência de energia vital (Qi, sangue, Yin e Yang) e a formação de elementos patológicos como estagnação de Qi, acúmulo de fleuma, umidade e coagulação sanguínea.
Fatores causais

- Lesões emocionais internas: estresse crônico, ansiedade e depressão levam à perda da função de desintoxicação do fígado e à estagnação do Qi hepático.
- Excesso de trabalho ou repouso: esforço físico ou mental excessivo esgota o Qi e o sangue; já o sedentarismo compromete a circulação saudável do baço e favorece a formação de fleuma e umidade.
- Dieta inadequada: excesso ou restrição alimentar prejudica o baço e o estômago, diminuindo as fontes de Qi e sangue.
Saques a descoberto do “banco de energia”
A MTC compara o corpo humano a um banco de energia:
- Essência congênita — a “poupança vital”: herança genética que determina a capacidade básica de energia.
- Força vital adquirida (Qi) — a “conta corrente”: energia obtida diariamente por meio da alimentação, respiração e hábitos.
- Mente ou Espírito (Shen) — o “caixa eletrônico”: reservas imediatas para atividades mentais e emocionais.
Quando o consumo de energia é excessivo e prolongado (por exemplo, devido ao estresse no trabalho, insônia ou depressão), o corpo sobrecarrega sua “conta corrente” e passa a usar sua “poupança vital”. Esse processo é análogo a usar crédito sem limite, levando ao colapso energético. Sintomas como “névoa mental” e “cansaço ao acordar” são sinais claros desse alarme sistêmico.
Tipos de diagnóstico do Burnout, segundo a MTC

De acordo com a MTC, a fadiga crônica pode ser classificada em diversos padrões sindrômicos:
1. Deficiência de Qi e sangue
Sintomas: cansaço, apatia, palidez, palpitações e insônia.
Alimentos recomendados: jujuba, gergelim preto, batata-doce, ginseng.
2. Deficiência de Qi e Yin
Sintomas: fraqueza, boca e garganta secas, insônia, febre baixa e suores noturnos.
Alimentos recomendados: mel, pepino, inhame, castanha portuguesa, alga marinha, pêra.
3. Deficiência de Yin
Sintomas: ondas de calor à tarde, irritabilidade, insônia.
Alimentos recomendados: milho, arroz preto, laticínios, raiz de lótus.
4. Deficiência de Yang
Sintomas: pés e mãos frios, palidez, inchaço, diarreia e depressão mental.
Alimentos recomendados: cevada, trigo sarraceno, mel, lentilha, inhame, batata-doce, soja, tofu.
5. Depressão hepática
Sintomas: sensação de plenitude no peito, irritabilidade, perda de apetite e insônia.
Alimentos recomendados: limão, rosa mosqueta, aipo, espinafre.
6. Umidade no baço e estômago
Sintomas: sensação de aperto no peito, letargia e ganho de peso.
Alimentos recomendados: painço, batata, inhame, batata-doce, chá de cevada.
7. Coagulação de Qi e sangue
Sintomas: dor fixa, bloqueio dos meridianos e depressão emocional.
Alimentos recomendados: arroz preto, gergelim preto, feijão preto, cebola.
Tratamentos para o Burnout, segundo a MTC
Acupuntura e acupressão

- Pontos Zusanli, Qihai e Guanyuan: tonificam o Qi e fortalecem o baço, aumentando a energia vital.
- Pontos Taichong, Ganshu, Pishu e Shenshu: regulam o fígado e o baço, beneficiam os rins e equilibram Yin e Yang.
Moxabustão

- Shenque e Qihai: aquecem o Yang e tonificam o Qi, melhorando quadros de fadiga crônica associada à deficiência de Yang.
Ventosaterapia e Gua Sha

Indicadas para quem apresenta estagnação dos meridianos ou constituição de calor e umidade, promovendo o fluxo de Qi e sangue, aliviando dores musculares e a fadiga.
Cuidados integrativos corpo-mente
- Regulação emocional: práticas como Tai Chi, Yoga e técnicas de gestão emocional.
- Dieta e estilo de vida: manter rotina regular e refeições balanceadas.
- Exercícios de respiração: como o Ba Duan Jin, para fortalecer o Qi e equilibrar a mente.
A abordagem da MTC para a síndrome da fadiga crônica complementa a medicina ocidental ao enfatizar uma visão holística, integrando aspectos físicos, energéticos e emocionais. O tratamento busca atuar nos níveis de Qi, sangue, Yin, Yang, órgãos, meridianos e emoções, promovendo uma reabilitação personalizada e sistêmica. A combinação das práticas da MTC com a medicina ocidental e o ajuste físico-mental oferece um caminho eficaz para alívio dos sintomas, recuperação do equilíbrio e prevenção de recaídas.
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Canais disponíveis pelo Ministério da Saúde ou Governo Federal:
- Centro de Valorização da Vida (CVV) – 188 (ligação gratuita) ou acesse o chat no cvv.org.br.
- CAPS e Unidades Básicas de Saúde mais perto da sua casa (Saúde da Família, Postos e Centros de Saúde).
- Se sentir que é urgente, procure a UPA 24H mais perto da sua casa ou chame o SAMU ligando 192 (ligação gratuita).
