Segundo o último Censo, mais de 13 milhões de brasileiros moram sozinhos. Ainda, segundo a mesma pesquisa, 81 milhões de pessoas em nosso país se declaram solteiras. Esses dois cenários podem trazer muitos aspectos positivos, mas na hora de se balancear os negativos, especialmente relacionados à saúde mental, o principal apontado é a solidão.
A solidão costuma ser vista de forma negativa, associada à tristeza, depressão, isolamento e sofrimento. Em 1996, Renato Russo já cantava que “o mal do século é a solidão”. Mas, será que estar sozinho é sempre ruim? Ou será que existe uma solidão necessária, aquela que nos protege, nos reconecta e até nos fortalece emocionalmente?
Neste texto, vamos entender quando a solidão pode ser saudável e até desejável, e quando ela se torna um sinal de alerta para a saúde mental. Afinal, estar sozinho e sentir-se sozinho são coisas bem diferentes.
Solidão: uma experiência humana e comum
Todos nós experimentamos momentos de solidão ao longo da vida. Pode ser o fim de um relacionamento, a mudança para outra cidade, ou mesmo aquele domingo silencioso em que tudo parece desacelerar. E tudo bem: a solidão, nesses casos, pode funcionar como um tempo de pausa e reflexão, uma oportunidade de escutar a si mesmo.
Em contextos de excesso de estímulos, conexões rasas e cobranças externas, ter momentos de solitude pode ser um gesto de autocuidado e aceitação das nossas vulnerabilidades. É nesse espaço silencioso que muitas pessoas conseguem se reconectar com seus desejos, reorganizar sentimentos e redescobrir a própria companhia.
De acordo com o psicanalista Winnicott, a capacidade de estar só é um indicador de maturidade emocional. Isso porque, para estar sozinho de maneira saudável, é preciso ter desenvolvido uma relação interna de segurança, como se mesmo na ausência do outro, ainda pudéssemos nos sentir acompanhados por dentro.
Quando a solidão é necessária?

A chamada solitude, aquela solidão voluntária e bem-vinda, pode trazer diversos benefícios, tais como:
- Redução do estresse e da sobrecarga emocional;
- Aumento da criatividade;
- Mais clareza para tomar decisões;
- Desenvolvimento do autoconhecimento e da autonomia;
- Fortalecimento da autoestima.
Estar só não é o mesmo que estar isolado. Muitas pessoas optam por passar um tempo solitárias, mesmo estando cercadas por amigos ou familiares. Isso não necessariamente indica sofrimento, mas sim uma escolha de recolhimento temporário, algo saudável e muitas vezes essencial para o equilíbrio emocional.
Quando a solidão se torna um sinal de alerta para a saúde mental

A solidão se torna um risco quando deixa de ser escolha e passa a ser um isolamento emocional involuntário, acompanhado de sofrimento. A sensação constante de desconexão com o mundo, mesmo quando está rodeado de pessoas, pode ser um sinal de alerta para transtornos como depressão e ansiedade.
Estudos mostram que a solidão crônica está associada a:
- Aumento de sintomas de depressão e ansiedade;
- Maior risco de ideação suicida;
- Queda na qualidade do sono;
- Redução da imunidade e piora de condições físicas crônicas (Cacioppo & Patrick, 2008).
Resumindo: sentir-se sozinho com frequência pode afetar não apenas a saúde mental, mas também a saúde física.
Solidão emocional x solidão social: entenda a diferença

É importante diferenciar dois tipos de solidão:
- Solidão social: refere-se à ausência de contatos ou conexões sociais. A pessoa tem poucos vínculos ou sente que está fisicamente isolada.
- Solidão emocional: é mais subjetiva e ocorre mesmo quando a pessoa está rodeada de gente. É a sensação de que ninguém realmente a compreende ou se conecta com ela em nível profundo.
Ambas podem ser fontes de sofrimento, mas a solidão emocional costuma ser mais silenciosa e por isso, mais perigosa, pois passa despercebida por quem está em volta.
Quem está mais vulnerável à solidão?
Alguns grupos tendem a ser mais vulneráveis à solidão crônica:

- Idosos, especialmente após aposentadoria, viuvez ou afastamento dos filhos;
- Adolescentes, por conta da busca por pertencimento e construção da identidade;
- LGBTQIA+, que podem enfrentar rejeição social ou familiar;
- Pessoas que vivem em grandes cidades, onde as conexões são mais impessoais;
- Trabalhadores remotos ou autônomos, com pouca interação presencial no dia a dia.
Além disso, eventos como perdas, mudanças abruptas e traumas também aumentam o risco de isolamento emocional.
Como saber se a solidão está afetando sua saúde mental?

Fique atento a alguns sinais de que a solidão virou sofrimento:
- Tem se sentido desconectado mesmo entre pessoas;
- Evita interações por medo de rejeição ou insegurança;
- Sente-se constantemente invisível ou excluído;
- Chora com frequência e não encontra sentido nas atividades do dia a dia.
Se você se identificou com esses sintomas, é hora de buscar apoio psicológico. A psicoterapia pode ajudar a reconstruir vínculos, tanto com os outros quanto com você mesmo.
5 dicas para lidar com a solidão de forma saudável

- Reconheça o que sente, sem julgamento. Nomear a solidão já é um passo importante.
- Cuide da sua rotina emocional: sono, alimentação, hobbies e atividades físicas.
- Busque conexões genuínas, mesmo que em pequenos encontros ou atividades coletivas.
- Permita-se estar só, mas também se observe: você está se isolando ou se protegendo?
- Considere a terapia, para compreender as causas da sua solidão e fortalecer vínculos internos e externos.
A solidão nem sempre é vilã, mas merece atenção
A solidão pode ser tanto um abrigo necessário quanto um sinal de alerta. Tudo depende da forma como ela é vivida e do impacto que causa na nossa vida emocional. Em uma cultura que valoriza o “estar sempre disponível” e hiperconectado, aprender a ficar só pode ser libertador, mas ficar só o tempo todo pode ser sinal de sofrimento psíquico.
Ouvir esse sentimento com sensibilidade e buscar ajuda quando necessário é parte essencial do cuidado com a saúde mental.
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Canais disponíveis pelo Ministério da Saúde ou Governo Federal:
- Centro de Valorização da Vida (CVV) – 188 (ligação gratuita) ou acesse o chat no cvv.org.br.
- CAPS e Unidades Básicas de Saúde mais perto da sua casa (Saúde da Família, Postos e Centros de Saúde);
- Se sentir que é urgente, procure a UPA 24H mais perto da sua casa ou chame o SAMU ligando 192 (ligação gratuita).